A Chance To Love é uma série dada às mãos erradas... na hora errada
A primeira coisa que você precisa saber sobre Love By Chance 2: A Chance To Love (2020) é que avaliar esta série é um grande desafio. Seus pontos fortes e fracos são bem perceptíveis e muito gritantes. Dificilmente o telespectador irá assistir avaliando ambos. Ou ele focará nos positivos ou nos negativos — e isso provavelmente definirá sua opinião sobre o BL. Dito isto, acredito que cada um terá uma opinião própria e divergente sobre o seriado, de acordo com sua experiência com o mesmo.
A segunda coisa que você precisa saber sobre a série é que eu amei assistí-la. Dei uma chance para A Chance To Love apenas neste ano de 2021, depois de passar por todo hype que a série teve durante seu período de exibição e todas as (muitas) polêmicas envolvendo as novels, a autora e o elenco. Isso fez com que as minhas expectativas estivessem mais baixas que o caráter da Karol Conka e, por esperar pelo pior, pude curtir tudo de bom que ACTL entregou e os pontos negativos acabaram em segundo plano na minha experiência — pois eu já esperava que eles estivessem ali.
TinCan (MeanPlan) foi o maior ponto positivo de A Chance To Love e dominou o tempo de tela da série — fazendo com que quase sempre eu me esquecesse que existia algo além deles ali. O reset na história dos personagens como casal deu uma chance nova aos dois e fez com que eles tivessem tempo suficiente para que nós nos apeguemos aos personagens.
No início de A Chance To Love, Tin (Mean) é o mesmo garoto arrogante da primeira temporada, mas nos episódios iniciais sua relação com Pete (Saint) mudou. Eles são amigos e Pete pede para que Tin cuide do seu (ex)namorado: Ae (Perth). A universidade que os personagens estudam é divide os alunos entre o programa internacional e o programa tailandês. Tin despreza todos, mas em especial os alunos do programa tailandês; por isso, o pedido do amigo é “difícil”.
É nessa missão de saber como Ae está que Tin conhece Can (Plan). O desprezo mútuo é imediato. Não rola nada como uma química ou tensão sexual. É apenas um garoto arrogante desprezando um garoto inocente demais e vice-versa. A cada encontro, as faíscas vão acontecendo até que Tin percebe a natureza pura de Can — e assim encontra nele uma esperança. Por Can não saber quem Tin é, nem nada relacionada a família do rapaz, Tin começa a se aproximar do garoto inocente na esperança de ter alguém ao seu lado para que ele possa ser ele mesmo — mesmo que Tin não tenha certeza de quem ele realmente seja.
A dinâmica clichê de um personagem pobre não enxergar o personagem rico apenas pelas suas posses e títulos é a premissa do início do casal. Tin começa a flertar com Can pois o garoto do programa tailandês não se importa com o seu dinheiro — fazendo com que na cabeça de Tin, Can seja uma opção melhor de parceiro do que qualquer garota que já conheceu. Particularmente, curti e me deliciei muito com as partes românticas deles, que depois do terceiro episódio, dominaram quase todo o tempo de tela da série com momentos fofos e declarações de amor que você encontraria facilmente em qualquer romance clichê.
Outro ponto positivo de A Chance To Love foi a suavização do conflito entre Tin e seu irmão Tul (Meen) — que parece ser o único “vilão” do BL. Das várias barbaridades e crueldades que ocorreram na novel, tanto feitos pelo Tul quanto às que ele fora a vítima, a série resumiu tudo em uma grande armação onde o Tul fez a família acreditar que Tin era um garoto problemático que usava drogas.
Ainda relacionado ao núcleo familiar de Tin, temos o outro ponto positivo da série que é a não demonização da esposa de Tul: Napavadee (não há informações sobre a atriz na ficha técnica). Quando há o divórcio, existe um diálogo bem maduro e franco entre Tul e Napavadee, onde ambos conversam sobre o matrimônio, que apesar de não havido afeto, houve cuidado. Uma grata surpresa dentro da série.
Não houve um momento em que eu odiei o Tul de verdade e entendo perfeitamente que, para uma série de TV, vilanizar demais um personagem que terá um arco de redenção não é uma boa ideia. Isso foi um acerto da produção.
Mas os pontos positivos do BL não me fizeram esquecer dos erros da produção e de decisão no processo de montagem da série. Um dos principais erros de A Chance To Love foi de tratar o personagem Ae como principal — o que nos rendeu longos takes dele chorando ou bêbado. Os dois primeiros episódios também não são nada agradáveis, onde a infantilização do Can foi constrangedora. Além disso, durante toda a série, o núcleo de “humor” causava mais desconforto que gargalhadas.
Expandindo ainda mais a crítica, temos a banalização e romantização do estupro que o Techno (Gun) foi vítima. Como apenas TinCan teve um reset de história, A Chance To Love começa com Techno querendo ficar o mais longe possível de Kengkla (Mark), amigo colegial de seu irmão que o estuprou quando Techno estava bêbado. O mais perturbador dessa temporada é que Techno — que não demonstrava nenhum interesse por Kengkla em Love By Chance — parece ter sentimentos por Kengkla e está afetado por todas as tentativas de pedido de desculpas de seu violador.
Os diálogos dão a entender que Techno não está com raiva de Kengkla por tê-lo estuprado e sim por ter mentido para ele. Isso não chega a ser uma surpresa para quem conhece como funciona os BLs, visto que mulheres cis heterossexuais parecem adorar colocar estupro, sequestro, assédio, perseguição, chantagem ou qualquer tipo de violência/coerção como ferramenta de aproximação entre dois homens em suas histórias de “amor”.
Tenho certeza que na cabeça dessas autoras a lógica funciona mais ou menos assim:
Techno: Após Kengkla me estuprar, finalmente percebi que tenho sentimentos por ele e que eu o amo mais que tudo.
Techno e Kengkla ainda protagonizam uma cena romântica de encontro no último episódio que acaba com eles indo ao cinema.
No fim, depois de 13 episódios, eu odiei A Chance To Love menos do que eu imaginei — chegando a ter amado assistir a série, pois todos os clichês foram bem usados em TinCan, com a boa dinâmica que o casal teve durante a série e os diálogos fofos que foram dados a nós. Porém, o gosto doce de TinCan deixa um sabor amargo no final pois consegui enxergar o potencial nunca explorado da série.
Com uma história que tinha tudo para dar certo, mas estando nas mãos das pessoas erradas — na hora errada —, Love By Chance 2: A Chance To Love nos entrega a chance de imaginar o quão bom esse BL poderia ter sido, mas não foi.
Assisti a primeira temporada toda em 3 dias e estava amando, tirando uma coisa aqui e outra ali...
ResponderExcluirAgora estou na segunda temporada e pra mim parece que ESTRAGARAM TUDO... Kd o Pete? Eu li sobre as tretas com o ator, mas deveriam ter entrado num acordo antes de gravar... E a explicação da série ficou meio (???)
O Ae nem precisava estar na série se o Pete não fora aparecer...
Juro que não entendi pq restaram a história do Tin com o Can... Tem alguma explicação oficial em algum lugar?
Tô muito decepcionado com essa segunda temporada :(