Crítica | We Best Love: No.1 For You (2021)

Nem melhor, nem amor: Sendo um acúmulo de ações e clichês problemáticos, o primeiro arco de We Best Love é algo que nunca deveria ter existido... principalmente por ter sido produzido em Taiwan

Após assistir os episódios iniciais de We Best Love: No.1 For You, fiquei me perguntando quantas pessoas trabalharam na produção dessa série e se não havia ninguém com o mínimo de bom senso para dizer que tinha algo errado ali. Visto pelo material final exibido para o público, provavelmente não tinha. E parece que nem era intenção da roteirista fazer algo digno, visto que ela abusou de clichês e artifícios narrativos para agradar o público. 

A roteirista de We Best Love: No.1 For You é a taiwanesa Lin Pei Yu, que trabalhou com o incrível History 2: Right or Wrong, o ótimo History 3: Trapped e o bom History 2: Crossing The Line. Porém, a assinatura de Lin Pei Yu em um roteiro não é sinônimo de qualidade — já que ela também foi responsável pelo abominável History: Obsessed. E em We Best Love: No.1 For You, a autora parece estar disposta a ter outra obra deste tipo em seu currículo. 

O protagonista da série é Zhou Shu Yi (YU): um garoto obcecado pela perfeição e por vencer, mas que sempre ficou em segundo lugar na escola e em todas as competições que participou. Ele sempre fora derrotado pelo seu colega Gao Shi De (Sam Lin). No seriado, Shi De se diz apaixonado por Shu Yi e tenta superá-lo o tempo inteiro para que seja notado pelo amado. Por ser competitivo e nunca ter vencido nada, Shu Yi vai a faculdade na tentativa de livrar-se do encosto que é Shi De na sua vida, mas não consegue. 

No primeiro episódio, ocorre uma competição de natação onde Shu Yi tem quase certeza de que vencerá — afinal, ele é o melhor nadador da faculdade. Caso vença, ele pretende declarar-se para Jiang Yu Xin (Belle Hsin), sua melhor amiga de infância. O problema é que seus planos vão por água abaixo quando ele escuta o nome de Shi De — que se transferiu para sua universidade — e pelo susto, cai na piscina. Shi De tenta “salvá-lo”, mas Shu Yi o rejeita como diabo foge da cruz. Na cena seguinte, Shu Yi conta aos amigos tudo de ruim que ele sente em relação a Shi De — culpado por fazer com que o protagonista nunca tenha vencido nada durante sua vida inteira. 

Como Shu Yi parece ter sido uma pessoa muito ruim na sua vida passada, no mesmo episódio ele escuta Yu Xin — a garota por quem está apaixonado — se declarar para Zheng Wen (Zack) — seu outro melhor amigo de infância. Isso o abala completamente pois Shu Yi imaginava viver um romance de melhores amigos de infância com Yu Xin, mas não esperava que ela quisesse viver isso com o outro melhor amigo, não com ele. 

E a dor do coração partido desencadeia o lado mais humano de Shu Yi. É quase palpável a dor que ele sente para o telespectador. Quando ele é pego ouvindo a declaração da melhor amigo para o melhor amigo, a situação é tão constrangedora que eu consigo me enxergar segurando as lágrimas por ele. Decepcionado, Shu Yi isola-se na piscina da universidade — que estava vazia — para administrar a própria dor. Ele chora, surta, põe tudo pra fora em uma mistura de japonês e mandarim e, por fim, se joga na piscina — talvez por que estar dentro d’água seja o lugar mais seguro para ele no momento — e deixa o colar que ele iria usar para se declarar para a melhor amiga dentro d’água. 

Só que Shu Yi nunca teve paz em nenhum momento da vida e não seria naquele momento que ele teria. Pronto para infernizar sua vida, Shi De aparece para “salvá-lo” (novamente) e o beija dentro d’água. Shu Yi está completamente transtornado com a atitude de Shi De — com quem não tem nenhuma intimidade — e com razão. 

Em outra cena, Shi De aparece de novo para “salvar” Shu Yi e no diálogo que eles têm, existe uma perturbadora atmosfera causada por Shi De — que não satisfeito em invadir a privacidade do outro e tratar o coração partido de Shu Yi com insensibilidade, Shi De ameaça e chantageia Shu Yi com um vídeo que ele gravou do rapaz em seu momento de vulnerabilidade. 

Esta é a brilhante ferramenta de aproximação que a autora deu em seu roteiro ao “casal protagonista”: ameaça, chantagem e exposição. Para que o segredo de Shu Yi não seja relevado, ele tem que ser o “secretário de Shi De” até a formatura e, assim, a “relação” deles surge. 

Ao longo dos outros episódios, nós observamos a relação deles ir a lugar nenhum. Em momento algum do roteiro existe qualquer visível afeto de Shu Yi por Shi De. O protagonista o tempo inteiro continua obcecado em vencer o seu rival — e apenas isso. 

Na tentativa de intervir na relação dos dois, surge o primo de Shi De: Pei Shou Yi (Ray Chang) — que é médico da faculdade. Ele segue a linha de personagem secundário que ninguém pode afirmar com certeza quais são seus desejos e objetivos, mas no fim, ele apenas serve para empurrar a “relação” dos protagonistas. Porém, não sem antes Lin Pei Yu conseguir piorar ainda mais o próprio roteiro, informando indiretamente ao público que o médico já se apaixonou por um menor de idade enquanto trabalhava em uma escola do ensino médio. 

Voltando aos protagonistas, Shi De desiste de tentar manter — de maneira egoísta — Shu Yi próximo dele e, milagrosamente, Shu Yi percebe que está apaixonado pelo seu rival. Isso te lembra algo? 

Existe uma cena da declaração entre os dois protagonistas — que ocorre no episódio 5 —, que é acompanhada de uma bela trilha sonora, um bom jogo de câmeras e um show de atuação de ambos atores, mas é totalmente empobrecida por tudo que a série já tivera feito e pelo desastroso diálogo: 

— Eu achei que você não gostasse de meninos. 

— Eu gosto de você! 

Se isso já é triste em um BL tailandês ou de outro país da Ásia, imagina isto vindo de Taiwan, o país mais progressista do continente, que tem uma comunidade LGBTQIA+ ativa e engajada e onde sexualidade é de conhecimento público e discutida amplamente na sociedade.

Quando chegamos ao último episódio,  a roteirista oferece uma degustação do que We Best Love: No.1 For You poderia ter sido, mas não foi. Temos os personagens finalmente tendo diálogos evolutivos, demonstrações de afeto e um trabalho de montagem que parece dar ao seriado uma atmosfera de comédia romântica de qualidade — tanto para o casal principal, quanto para os secundários.

Porém, esse clima de romance leve que a série tentou entregar é completamente estragado pela cena pós-crédito constrangedora e completamente inverossímil do episódio — que serviu como chamada para a segunda temporada (ou segundo arco, como preferir chamar).

No fim, We Best Love: No.1 For You é o produto resultado do trabalho de uma roteirista preguiçosa, que não soube desenvolver um plot simples — mas com muito potencial — e que fez a série se perder dentro da sua própria proposta. O talento dos atores, a boa fotografia e a trilha sonora acertada foram grandes pontos positivos dentro da produção. Talvez isso tenha sido suficiente para que muitos gostassem da série, mas com certeza não foi o suficiente para mim.