Se a Igreja Universal produzisse um BL, com certeza você veria algo como Amore: um tentativa de evangelização disfarçada como um completo show de horrores
E foi querendo surfar nessa onda de lançamentos BLs e de novidades vindo das Filipinas que surgiu a série Amore no YouTube. Como quase todos os boys love produzidos nas Filipinas, Amore é um trabalho de uma produtora independente, onde o diretor acumula funções e tem uma relação muito próxima com toda equipe — uma proximidade às vezes íntima e informal demais, que vai refletir na (baixa) qualidade do produto.
Assistir Amore é como acompanhar um(a) escritor(a) adolescente com a mais baixa erudição possível escrevendo sua primeira novela/fanfiction na internet. Quando a série foi anunciada, ninguém tinha informação sobre a quantidade de episódios, nem da periodicidade dos lançamentos. Isso sem falar da sinopse, que sozinha, é quase como uma tragédia isolada. Ao assistir os "27 episódios" de Amore, você tem ainda mais certeza do amadorismo e falta de profissionalismo da produção desse BL: a sinopse não reflete a história; a impressão que tenho é que eles foram escrevendo o roteiro dos episódios de maneira aleatória, sem se preocupar em fazer um mínimo esboço de como seria a história e torcendo para que quem tivesse a coragem de acompanhar esse show de horror em forma de BL, tenha esquecido da sinopse.
Amore se vende como um clichê enemies to lovers entre colegas de quarto. O protagonista Joey (Erwin Buenaventura) e o garoto popular que faz bullying com ele, Jimmy (Drei Arias), de alguma forma devem viver todas as situações datadas possíveis até descobrirem que estão apaixonados um pelo outro e viverem felizes para sempre. Afinal, a sinopse se refere aos dois, são eles que estão na capa e a série se chama "amore".
Em meio a episódios lançados em partes, sem qualquer tipo de periodicidade, o que de verdade acompanhamos é Joey, o clichê do jovem pobre estudioso, que vai morar em uma pensão quando começa a faculdade. As interações de Joey com Jimmy seguem — de uma forma muito tosca — a dinâmica do valentão e sua vítima. Porém, nos primeiros episódios também é introduzido um outro personagem: Wil (Ivan Sarte).
Wil é o rival de Jimmy e é vendido como "o cara certo". Ele é gentil, romântico, apoia Joey e está apaixonado por ele. Para salvar Joey do assédio de uns colegas de classe, Wil apresenta-se como namorado de Joey — pois parece haver uma lei invisível que permite que pessoas solteiras sejam assediadas. Isso faz eles se aproximarem, mas Wil gosta de verdade de Joey e tenta conquistá-lo — mas o protagonista sem personalidade continua seguindo o clichê de "não quero um namorado, quero me dedicar aos meus estudos".
Ao longo de toda a primeira temporada, seguimos esse triângulo amoroso — com alguns elementos a mais no caminho. O professor responsável pelo setor que o Joey consegue o estágio o beija a força, sem qualquer consentimento. Apesar da atitude criminosa, Joey decide não o denunciar e apenas o afasta. A série volta a tocar nesse assunto depois, mas é de uma maneira extremamente irresponsável. O assédio é tratado como "uma forma errada de demonstrar amor" e mesmo que outros funcionários da universidade saibam do ocorrido, nada acontece.
Também temos um dos amigos que Joey faz na faculdade, Nuan (Jules Indiola), apaixonado por ele. Enquanto ele e Wil são (quase) namorados (de verdade) de mentira, Nuan tenta várias vezes fazer com que Joey corresponda seus sentimentos — e fracassa todas as vezes. As cenas são todas vergonhosas e você sente vontade de pular todas.
Como se já não fosse ruim o suficiente, Amore consegue transformar o roteiro mais furado que queijo suíço em alguma espécie de anomalia temporal onde várias realidades paralelas vão sendo vividas ao mesmo tempo. Ao longo dos episódios, quando Joey e Wil finalmente namoram (de verdade), Joey afirma diretamente que não gosta de Jimmy. Porém, suas atitudes, olhares e gestos deram o tempo inteiro a impressão que ele gostava.
Simplesmente NÃO-FAZ-SENTIDO.
Quase no final da série, o príncipe Wil é revelado como um grande manipulador, visto que seu ciúmes e tentativas de controle fazem com que ele arme para que Joey seja demitido — e dessa forma, faça com seu namorado comece a depender financeiramente dele. Por mais que já exista indícios que Wil tem vários segredos, a maneira como tudo foi executado pareceu que — como todo o resto da série — aquilo foi feito apenas como uma desculpa para dizer: Bem, o Jimmy fez bullying com o Joey, mas esqueçam isso, o Wil é abusivo. O Jimmy é uma opção melhor que ele.
E bom, depois de várias saltos temporais sem qualquer sentido, a série termina com um episódio de 15 feito às pressas, com Jimmy tendo um sonho profético com ninguém menos que... JESUS! E depois de toda catequização que o cristão país Filipinas tentou fazer, Jimmy decide ser padre. Joey sumiu por algum motivo que nunca iremos saber qual é e ambos se abraçam, com a tela usando uma clichê frase sobre amar ser um sentimento de sacrifício.
Enfim... Amore é um compilado de 27 episódios — partidos ou completos — produzidos por algum gay sem qualquer pingo de amor próprio e que tentam dizer "tá tudo bem você ser gay, desde que você não seja gay", algo como "Deus ama o pecador, não o pecado". E, sendo ruim em absolutamente TU-DO que se propõe a fazer, Amore é provavelmente o pior BL que eu já vi em TODA A MINHA VIDA — e olha que eu comecei vendo BL com bombas do tipo Okane Ga Nai.
Espero que o ator Ivan Sarte consiga bons trabalhos — ele atuou bem.
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